Você sente que age de uma maneira que é incompreensível e não te satisfaz e mesmo assim não consegue fazer diferente? Você já reparou nas situações que se repetem em sua vida? Alguma vez já teve a sensação de que já viu esse filme antes? Talvez você já tenha se perguntado o motivo destas coisas acontecerem repetidamente, mas não chegou a nenhuma resposta.
Podemos observar repetições em muitas coisas ao nosso redor, nas estações, nas fases da lua, no funcionamento do nosso corpo, ao dormir, respirar, comer.
Todos nós temos formas de repetições, no dia-a-dia elas aparecem em nossos costumes. Quando se trata de repetição trivial não há maiores problemas, o problema é quando a repetição causa sofrimento.
A repetição é a forma própria de alguém agir e se relacionar com o mundo, ela traz consigo traços de nossa identidade e dá pistas de quem somos. Sem a repetição a pessoa tende a não se reconhecer, por isso é comum demonstrarmos receio diante de mudanças.
A repetição pode acontecer em diversas áreas da vida: família, trabalho, relacionamentos, amizades, saúde, ou qualquer outra esfera.
Quantas vezes você já disse “nunca mais!” e se pegou na mesma situação de novo? Exemplos: Sequência de rompimentos amorosos; compulsão alimentar; sempre se apaixonar por quem não corresponde ou envolvimento seguido em relações abusivas; ciúme excessivo e sentimento de posse; ter problemas de relacionamento em todos os trabalhos, ser sempre traído ou não conseguir parar de trair; ser sempre o injustiçado ou enganado, e por aí vai…
Você deve estar se perguntando: Mas por que a situação se repete?
O psiquismo repete desde a mais tenra infância padrões de satisfação. A repetição está presente em nossas vidas, desde que nascemos. Na infância as crianças têm costume de pedir aos seus responsáveis que repitam algo, em especial canções e histórias. A experiência da infância tem uma forte influência sobre a personalidade adulta. Basicamente falando é na infância, na relação entre pais e filhos que uma pessoa constrói seu modo de ser e relacionar com o mundo.
Sigmund Freud em sua obra relaciona compulsão com repetição para explicar um processo inconsciente, no qual o sujeito repete compulsivamente na tentativa de elaborar. O que está em jogo na repetição é algo sentido como traumático que não podendo encontrar uma forma de expressão é reeditado através do ato. Nas palavras de Freud: “O que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até encontrar resolução e libertação”.
Mesmo com sofrimento, em alguma instância, a repetição faz “gozar”, muitas vezes, produzindo ganhos secundários. Como no caso de alguém que vive doente e por conta disso recebe atenção.
O sintoma além de sua característica repetitiva pode representar de maneira “disfarçada” um conflito passado, o recalcado busca escapar através do sintoma. O sintoma tem algo a dizer, a pessoa diz através do sintoma o que não pode dizer de outra forma. O que não vira palavra vira sintoma, e a repetição é a forma do sintoma insistir em ser ouvido.
Muitas vezes a repetição não é consciente e mesmo que seja é difícil sair dela sozinho, portanto, é necessário que isso seja explorado num cenário psicoterapêutico.
“Se a repetição nos torna doente, é também ela que nos cura” (Deleuze). O atendimento psicanalítico se utiliza da repetição para que ela encontre um novo desfecho.
Há demandas que só encontram respostas na construção de novos caminhos, trilhados dentro de si, rumo a uma nova forma de satisfação, que a repetição reivindica. Um caminho novo possibilita novos modos de se relacionar com partes da sua história.
Amanda Garcia Kreyci CRP 06/130484
Atenção: As informações contidas neste site têm caráter informativo. Não substituem o processo de psicoterapia e não devem ser utilizadas para realizar auto-diagnóstico.