“Dar um tempo”

Damos um tempo porque somos apaixonados pelas ilusões.

Freud dizia que as ilusões são formadas por desejos.

Damos um tempo quando desejamos continuar algo que claramente já acabou.

Damos um tempo quando desejamos não nos responsabilizar por nossos desejos.

Damos um tempo pois nos recusamos admitir que o nosso tempo com alguém acabou.

Somos apaixonados pelas ilusões.

Preferimos acreditar que o tempo vai ajudar, mas bem lá no fundo nós sabemos que o tempo sozinho não faz nada, além de passar.

Não é o relógio que vai ajudar.

Damos um tempo porque nos recusamos a acreditar que algo que foi tão bom pode acabar.

Damos um tempo porque resistimos ao fim.

Somos apaixonados pelas ilusões.

Nos apegamos as boas lembranças e dizemos a nós mesmos que tudo vai voltar a ser como era antes.

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A ficha vai caindo…

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Antigamente o orelhão funcionava com fichas, quando a ligação era completada dava pra ouvir o barulho da ficha caindo. Hoje a gente diz que a ficha caiu quando chegamos a uma compreensão interna. E assim como no antigo orelhão, quando a ficha cai significa que uma conexão foi feita dentro da gente e isso faz um barulho danado.

A ficha vai caindo. O tempo vai passando e você percebe que aquilo estava ali o tempo todo e você se recusava a enxergar. A ficha vai caindo e você vai lembrando dos sinais que haviam, e se dá conta de que o que aconteceu não era nenhuma surpresa. A ficha vai caindo e você percebe que aquilo que era para ser reciproco se tornou unilateral. A ficha vai caindo e você descobre que sabia que sabia. Bem lá no fundo, a gente sempre sabe quando algo não vai bem. Sabe quando o sentimento é duvidoso, sabe quando as palavras são suspeitas, sabe quando as atitudes denunciam aquilo que a boca não consegue falar.

A ficha vai caindo e nos damos conta que as ilusões Continue lendo “A ficha vai caindo…”

Nossas solidões

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Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma; és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre

Fernando Pessoa (Fragmentos de uma autobiografia, 2011, p.245).

A palavra solidão nomeia um estado que não é sentido da mesma forma por todas as pessoas. Para alguns a solidão é o decreto dos travesseiros pesados, das tristezas profundas, do vazio sem palavras. Buscam fugir dela, pois é sentida como intolerável e desesperadora.  Já para outros a solidão é um estado desejado, planejam os momentos em que enfim conseguirão ficar a só, para usufruir plenamente de pequenos prazeres como ouvir música, ler um bom livro, fruir da beleza, ter compreensões íntimas.

Freud ao longo de todo o seu desenvolvimento teórico irá afirmar a intensa dependência que um ser humano possui de outro, para sobreviver e se desenvolver. Ele formula a compreensão de que o desamparo seria uma condição fundadora do ser humano, pois só é possível se humanizar na relação com outro. Somos vulneráveis ao desejo, à vontade e ao olhar de outro. O que ocorre é que muitas vezes essa dependência se torna tão grande que anulamos nosso próprio desejo, nossas vontades e nosso olhar em prol de outras pessoas. Ficamos alienados de nós mesmos, não sabendo nomear sozinhos o que nos faz sofrer. Assim, em momentos de solidão somos tomados pela angústia, quando aquilo que está oculto em nós (que negamos em prol do outro) pode irromper (Freud, 1926/1993).

Ficar sozinho não é fácil, pois, impõe a companhia de si mesmo. Essa angústia ou a tristeza da solidão não advém somente do estado de estar só, mas das Continue lendo “Nossas solidões”

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