A paixão é insana, o apaixonado tende a inventar uma pessoa que o completaria. Na paixão não existe meio termo, é 8 ou 80, a paixão é o lugar dos exageros, dos extremos.
A paixão se trata de uma fantasia de completude. Como a paixão é insana, o apaixonada não quer saber da realidade.
Na paixão nós confeccionamos uma fantasia para o outro e esperamos que ela sirva perfeitamente nele.
Na paixão existe o não querer saber, não queremos saber da falha do outro, da impossibilidade desse outro nos completar. Na paixão há uma tendência a querer virar uma pessoa só, mas esquecemos que quando duas pessoas se tornam uma só é porque uma delas deixou de existir.
Na paixão tendemos a querer viver somente aquilo intensamente e descartar todo o resto, na tentativa de se fundir com nosso par. Por isso os apaixonados acabam se afastando um pouco dos amigos, das atividades, da família. Os apaixonados se bastam e excluem todo o resto.
Mas a paixão não dura muito tempo, porque sua intensidade exige muita energia e uma hora isso acaba por nos cansar.
Conforme a realidade vai insistindo em se fazer presente no mundo da paixão, nossos olhos vão se abrindo e aos poucos passamos a enxergar o outro como ele realmente é e não como inventamos.
E nessa hora é comum a gente se desapontar com o outro, e é nesse momento que surgem frases do tipo: “você nao era quem eu imaginava”.
Quando o outro demonstra que não serve na fantasia que costuramos para ele algo desmorona.
E é quando a realidade insiste em revelar a verdade sobre o outro que a paixão pode se transformar em amor, ou não.
Pois para que a paixão vire amor, precisamos suportar frustração.
Na passagem da paixão para o amor, tudo depende da nossa capacidade de lidar com a realidade e flexibilizar a fantasia, e também depende de como a realidade vai se apresentar, depende se vamos sentir ela com violência ou com delicadeza, e se seremos capazes de ser dois ao invés de um. E isso implica em conviver com as diferenças, já que a gente não ama o outro por ser nosso espelho, mas sim por ser quem ele é.
Poucos querem o amor, porque o amor começa quando a gente se desaponta e poucos suportam se desapontar.
O amor trata-se de uma desconstrução, desconstrução do que pensávamos que existia, do que pensávamos que o outro era.
Poucos querem o amor, porque amar é perder, perder nosso ideal de amor, e poucos suportam perder.
No amor procuramos uma coisa, achamos outra e somos capazes de conviver com isso.
No amor suportamos a singularidade do outro, ao invés de tentar fazer ele caber na nossa fantasia.
O amor não se trata de tentar preencher nosso vazio com o outro, mas sim de suportamos sermos incompletos, bem como de suportar que o outro também seja.
“Com frequência, pensamos que, no amor encontraríamos a a parte que supostamente nós falta, a parte que nos livraria da nossa própria falta, a parte que nos preencheria. No entanto, no amor, o que se experiencia é o contrário. Quando amamos alguém, nossa falta tende a ser duplicada. Ao encontrar um amor, a gente não encontra a parte que nos faltava até então. A gente encontra a metade que fará falta a partir dali. Mira-se no amor, acerta-se na solidão!” (Ana Suy)
Créditos: Esse texto foi escrito com base nos estudos da Psicanálise, principalmente através da leitura e estudo dos livros e textos da minha autora preferida Ana Suy, sobretudo do seu livro: A gente mira no amor e acerta na solidão.
Amanda Garcia Kreyci CRP 06/130484
Atenção: As informações contidas neste site têm caráter informativo. Não substituem o processo de psicoterapia e não devem ser utilizadas para realizar auto-diagnóstico.