Análise do filme Sete minutos depois da meia noite

sete minutos post

O filme aborda o doloroso trabalho de luto e vai fundo nessa temática ao acompanhar a história de Conor (atuação impecável de Lewis MacDougall) um menino que está perdendo sua mãe para um câncer. O filme começa com um sonho (pesadelo) onde o chão está desmoronando. Temos o costume de usar a expressão ficar sem chão quando passamos por alguma situação de extrema dificuldade. Como a morte, por exemplo.

O luto envolve emoções ambivalentes e o filme explora isso com muita beleza o tempo todo. Raiva, culpa, abandono, tristeza, agressividade, revolta, negação…

O filme apresenta o processo de luto em todas as suas fases: Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Perder alguém lentamente é exaustivo e demanda bastante energia, uma pessoa em estado terminal parte um pouco a cada dia e isso pode gerar o pensamento e o desejo de que aquilo acabe logo. O que por sua vez gera uma confusão interna.

Para passar por essa experiência de luto devastadora Conor vai construindo seus próprios recursos para lidar com a dor. E isso acontece principalmente através dos seus sonhos com um monstro, que Conor acredita ter vindo para ajudá-lo a salvar sua mãe. Mas o monstro é claro ao dizer: Eu não vim curá-la. Eu vim curar você.

O monstro diz que contará 3 historias e o Conor deverá contar a 4º e que nela estará a verdade que ele esconde. Verdade essa que se encontra em seu pesadelo recorrente do chão se abrindo.

Todas as historias estão conectadas diretamente com a vida de Conor.

A 1º historia é sobre uma rainha má. Referência a como Conor enxerga sua vó. Nesse sonho/historia Conor tem a oportunidade de refletir e perceber que nem sempre há só mocinho ou vilão. A maioria das pessoas são os 2, diz o mostro. Nesse sonho o menino está elaborando sua relação com a vó.

A 2º aparece no filme justamente depois de o pai do Conor demonstrar que não quer ele em sua casa com sua nova família. A 2º historia é justamente sobre um homem que só pensava em si mesmo.

Ainda assim, seu pai desempenha um papel importante, pois apesar de parecer vilão em alguns momentos, é justamente devido ao seu distanciamento emocional que ele é o mais realista com o Conor. Lembra da historia anterior? Nem sempre há só mocinho ou vilão.

A 3º historia é sobre um homem invisível cansado de não ser visto. Aqui vemos uma triste solidão em Conor, que mesmo de um jeito “torto”, através da violência sofrida, buscava ser visto. Foi mais doloroso para ele saber que não teria ninguém reparando nele, (ainda que fosse só para agredir) do que ser ser maltratado. Com o bullying mesmo que fosse para ser odiado, teria alguém reparando nele.
Ao seu próprio modo aqui é possível ver ele construindo recursos de defesa e enfretamento.

Conor sofre bullying na escola. Ele encara de forma provocativa o garoto que faz bullying com ele na tentativa de ser punido por uma dura verdade que ele esconde, e pela qual se sente culpado. E essa agressividade se expressa em outras cenas, ficando claro em sua pergunta (Você não vai me punir?) que ele deseja ser castigado pela verdade que guardava. Conor se submetia ao bullying como uma forma de punição.

“Eu vou morrer se eu falar a verdade”. Nessa fala fica evidente a dificuldade humana em enfrentar as próprias verdades. Penso que todo mundo pode se identificar ou concordar com o quanto a dor de uma verdade faz a gente evitar ela a todo custo ou sentir que vai morrer se admitir ou se dizer aquilo. Dizer em voz alta torna o que dizemos mais real do que quando está guardado, por isso tememos dizer a verdade. Mas quem se autoriza sabe que a fala é libertadora e que dizer uma verdade em voz alta traz alivio.

sete minutos

O inconsciente emerge de diversas formas cobrando o confronto com verdades que não queremos admitir. A Psicanálise é uma experiência com o inconsciente que nos aproxima dos monstros que tememos confrontar. Sete minutos depois da meia noite veio para mostrar que nem sempre o monstro é um inimigo e que encarar os nossos monstros internos nos fortalece e promove crescimento.

Na minha visão o monstro representa duas coisas:

1º O inconsciente, onde nossos desejos mais profundos e inaceitáveis ficam reprimidos, onde estão os conteúdos que temos dificuldade de lidar em nossa consciência moral. Sendo um dos objetivos da terapia trazer a luz e trabalhar esses conteúdos.

2º Um analista ajudando e mediando o processo de luto de Conor. O desenvolvimento do filme lembra um processo de psicoterapia, na medida que o monstro representa um suporte no enfrentamento do sofrimento.

Freud  em sua obra mais famosa “interpretação dos sonhos”, relata que o sonho é a principal via de acesso ao inconsciente. Conteúdos que nem sabemos que existem, desejos e ideias inaceitáveis conseguem escapar durante o sono e se manifestam de forma disfarçada. Aparentemente Conor tentava salvar sua mãe em seu sonho. Mas no desenrolar da trama o disfarce se revela.

A verdade que o pesadelo de Conor escondia e que ele encara de uma forma muita bela no final, é que ele queria que aquilo acabasse, por isso solta a mão da mãe quando o chão se abre.

sete minutos eu queria que acabasse logo

 

O filme nos mostra que só encarando a verdade, por mais difícil que ela seja, teremos a chance de dar um novo sentido para o sofrimento.

Nosso inconsciente pode se supor um poder que não possui, como o de ser responsável pela morte de alguém, quando não temos relação nenhuma com isso.

Conor sentia culpa por parte dele desejar a morte da mãe, como se o seu desejo pudesse causar a morte dela. Mas o monstro lhe responde:

dorrrrr

Amanda Garcia Kreyci CRP 06/130484

Atenção: As informações contidas neste site têm caráter informativo. Não substituem o processo de psicoterapia e não devem ser utilizadas para realizar auto-diagnóstico.

Agende uma sessão ou entre em contato para mais informações: (19) 997428871

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