A vida como ela é se tornou árdua demais, a fim de suportá-la recorremos a medicalização. Vivemos uma patologização da vida psíquica, a ideia que se propaga é a de que as dores da vida devem ser eliminadas. Observa-se na sociedade contemporânea uma busca desenfreada pelo tratamento farmacológico como único modo de enfrentar as diversas manifestações da dor de viver.
A longa lista de sintomas divulgados convida a população ao autodiagnostico, e isso tem como efeito um aumento expressivo no número de pessoas que chegam aos consultórios psiquiátricos. Será que a crescente demanda nos consultórios médicos revela um aumento de casos ou um aperfeiçoamento dos métodos diagnósticos? Que buscam enquadrar nossas dores em sintomas.
O fato é que o aumento de diagnósticos de depressão e ansiedadeacompanha a ampliação da indústria farmacêutica, do comércio de antidepressivos e ansiolíticos.As estratégias de expansão da indústria farmacêutica tendem a influenciar no aumento de diagnósticos, pois disseminam o pensamento de que toda manifestação de tristeza e angústia é medicalizável.A divulgação na mídia e em panfletos espalhados pelos consultórios, mostra uma lista interminável de sintomas, para convencer a massa de que suas oscilações de ânimo requerem tratamento. E assim cria-se demanda para a cura mágica que a indústria pode oferecer.Não se trata aqui de desprezar ou questionar a utilidade da medicação, mas sim de criticar a patologização da vida, como se ela tivesse que ser uma experiência sem imprevistos, na qual emoções humanas comuns são rejeitadas e caladas, tornando a vida muito empobrecida.A epidemia medicamentosa ocupou nossas vidas de tal modo que já não há mais espaço para sentir, para sofrer, para lidar com as frustrações e as dores próprias da vida. Na busca por alívio imediato lotamos os consultórios e só saímos de lá com uma receita na mão, solução rápida que visa eliminar qualquer mal-estar sem se preocupar em buscar sentido para o sofrimento. Assim nos poupamos de nos confrontar com nossas questões.O sujeito contemporâneo medicalizado tem sua singularidade aniquilada em prol de um modo de existir generalizado, em que qualquer experiência de dor interna é passível de cura. A medicalização indiscriminada abafa o que clama por ser ouvido.Escutar o sofrimento humano requer constantes questionamentos, um processo de análise é movido por perguntas. E responde-las com rótulos e medicação é calar o estranho que nos habita. Escutar a singularidade de cada um é não silenciar os conflitos inerentes a condição de existir. A psicoterapia é um convite para lidar com a angústia de forma criativa, dando significado ao sofrimento através da palavra. Falando é que se constrói um saber sobre si.
É preciso esclarecer que, quando prescrito de forma responsável, a medicação se torna uma aliada no enfrentamento do sofrimento, mas que não se deve restringir o tratamento apenas ao uso dessas substancias. Com o tempo os sintomas podem até diminuir, mas a medicação não trabalha as questões subjetivas e não chega na causa do problema que está provocando os sintomas.
Em muitos casos a psicoterapia dá conta, em outros, é preciso entrar com medicação para complementar o tratamento. Há casos em que a medicação se faz necessária para reduzir a severidade dos sintomas, para aumentar a adesão à psicoterapia ou como recurso para sua continuidade.
Geralmente o paciente toma a medicação na fase mais crítica e a tendência é que a dosagem possa ser diminuída ou cessada.
O principal risco de tomar medição por conta ou resumir o tratamento apenas a ela, é que as substancias passam uma sensação de eficácia pois diminuem os sintomas, mas ao retirá-las os mesmos podem voltar, inclusive de maneira mais intensa.
A Psicanálise incomoda porque mostra que não há remédio para tudo. “A psicanálise entende que a angústia é fundamental para o ser humano. Se ela é causa de doenças, é também causa da criação.” (Jorge Forbes).
Amanda Garcia Kreyci CRP 06/130484
Atenção: As informações contidas neste site têm caráter informativo. Não substituem o processo de psicoterapia e não devem ser utilizadas para realizar auto-diagnóstico.
Agende uma sessão ou entre em contato para mais informações: (19) 997428871
Deixe um comentário