Ressentimento e remorso são emoções que geram sofrimento e ambiguidade, pois apesar da dor a pessoa pode apresentar um apego ao sofrimento. Tanto um quanto o outro estão relacionados com situações passadas, podem gerar imobilização e comprometer planejamentos futuros, ofuscando a possibilidade de novas experiências.
Ressentimento
Re-sentir: sentir de novo, sentir coisas velhas, em oposição a abertura ao novo.
Os ressentidos geralmente são pessoas com poucos interesses e sonhos atuais. É como se a pessoa deixasse de aprender com as experiências novas devido a grande quantidade de energia “presa” no passado.
A pessoa ressentida fica indignada em perder uma situação ou uma pessoa que julgava ser sua completude, e não consegue substituir o que perdeu por nada que esteja disponível no presente.
O ressentido clama por justiça. Fica na expectativa de que a pessoa que lhe fez mal se arrependa, peça perdão, ou que pague na mesma moeda (Ex: Encontrar alguém que lhe faça o mesmo). Com isso corre o risco de ficar paralisado na vida esperando por algo que talvez nunca aconteça.
Para o ressentido é impossível deixar o algoz ir, ele mantém por perto a pessoa que o magoou, mesmo que essa pessoa não saiba. O ressentido “vigia” o algoz na esperança de descobrir que ele está pagando pelo mal que fez.
Perder o algoz de vista implicaria na perda do bode expiatório onde o ressentido deposita todos os defeitos e mazelas.
Quando a pessoa que lhe fez mal está passando por uma situação ruim o ressentido se sente gratificado, como se a justiça estivesse sendo feita, porém quando o algoz está feliz a raiva do ressentido aumenta, junto com a revolta e a sensação de injustiça.
O ressentido se sente moralmente superior, ele tem uma autoavaliação, na qual se coloca como superior a seu agressor. É comum nos ressentidos discursos do tipo: “Nossa, fulano não vale nada e só acontecem coisas boas com ele, e eu que sou bom tenho que passar por tudo isso?”.
A pessoa ressentida busca o ajuste de contas, seja através da justiça ou da vingança. Uma das formas mais atuadas de vingança do ressentido é a difamação do algoz, o ressentido destrói a imagem de seu agressor para as outras pessoas.
Mas a vingança nem sempre é expressa na realidade, muitas vezes isso acontece só nas fantasias. Ao não atuar na realidade a vingança se torna um tormento sem fim dentro da mente da pessoa.
O ressentido não realiza sua tão planejada vingança, pois isso o rebaixaria, para acertar as contas ele teria que abrir mão dessa moralidade que se orgulha de ter.
Algumas vezes a experiência boa proveniente do causador da dor consegue curar as feridas. Ex: O algoz reconhecer que fez o mal e tentar reparar ou se desculpar de alguma maneira.
A mágoa velada dá ao ressentido o papel de vítima. Ele entende um prejuízo como uma derrota, e logo, quem ganhou é o culpado. Dessa maneira o ressentido se livra de rever sua participação na situação da qual se queixa.
No ressentimento há um intenso apego a realidade sonhada, planejada e sentida como merecida, e recusa da realidade como ela é. Ele vai esperar que a realidade seja sempre justa e coerente, mas a vida não é justa nem injusta, ela é o que ela é.
O ressentido sente que o mundo está em falta com ele, como já sofreu muito crê que agora só merece receber. Além disso, existe uma ideia de que o algoz está melhor, aproveita mais a vida, como que recebendo tudo de bom que foi negado ao ressentido.
O ressentimento pode se tornar um culto a própria desgraça. O ressentido acredita estar castigando o outro ao ficar guardando esse afeto, pois o outro não merece o perdão. Dessa maneira o ressentido pode se tornar uma pessoa amarga, que mina as novas possibilidades por não conseguir seguir em frente. Como diz a conhecida expressão: é tomar veneno esperando que o outro morra.
O ressentimento é produto do não perdoar, e perdoar têm a ver com a aceitação das limitações humanas, das próprias e das do outro.
Remorso
A palavra remorso vem de remordere, que significa tornar a morder. Está ligada a atacar e ferir. O remorso é experimentado por aqueles que acreditam que cometeram uma ação que infringe o código moral que obedecem.
O remorso pode advir de um sentimento consciente ou inconsciente de culpa, mas é mais amplo que a culpa, pois necessita de penitência, acionando um castigador interno. A pessoa que sente o remorso tenta “quitar” uma divida que se mostra impagável.
O remorso pode vir também não só por ter feito algo errado, mas também por não ter cumprido os ideias pessoais ou parentais Ex: Filho deve ser extensão dos pais e garantir aquilo que eles não conseguiram.
O não cumprimento dos ideais ou a realização de uma má ação cria forte culpabilidade, que clama para que a pessoa pague por isso, gerando autopunição, como situações de fracasso constante, tristeza crônica, lesões autoinflingidas, sensação de que não merece ser feliz, entre outros.
Vale lembrar que agimos de acordo com as condições psíquicas que temos no momento. Quando alguém toma atitude baseada em mágoa, rancor e ressentimentos é porque supõe que isso é o melhor a se fazer no momento. À medida que perdoamos nossos desacertos, começamos também a perdoar as faltas dos outros, e isso é essencial para uma existência emocional tranquila.
Somos todos humanos!
Amanda Garcia Kreyci CRP 06/130484
Atenção: As informações contidas neste site têm caráter informativo. Não substituem o processo de psicoterapia e não devem ser utilizadas para realizar auto-diagnóstico.
Agende uma sessão ou entre em contato para mais informações: (19) 997428871
Bibliografia
Ressentimento. Maria Rita Kehl, casa do psicólogo, 2011.
Ressentimento e remorso, estudo psicanalítico. Luis Kancyper. Casa do psicólogo, 1994.
Deixe um comentário